Carta de uma emigrante ao Santo António

Querido Santo António,

Vim à nossa Lisboa mais uma vez. (Vim, fui, estou, sou, sinto; nunca sei que verbo usar). Gosto de falar contigo sempre que me vejo a sobrevoar a nossa costa e as nossas sete colinas, inchada de orgulho para os branquinhos que ao meu lado no avião sussurram beautiful’s e wunderschön’s como quem lhes quer dizer: é minha!

Acompanhas-me nestas lides de emigrante europeia (ai o que seria de mim se transatlântica) há meia dúzia de anos. Já me viste tanto histérica como deprimida de por cá andar sobre a calçada que já não me é rotina. Essa calçada que piso sem pressas, que todos os restantes passos são vagarosos e põem a Maria Londres em memórias distantes. Até as escadas rolantes são mais lentas e ninguém nelas corre pela esquerda. Aliás: ninguém corre.

Cá (ou lá) as minhas pernas entram em repouso, que não caminho nem um décimo das milhas londrinas, e passo o tempo sentada – a comer ou no carro ou nos tais passos vagarosos. Vagarosos também os convívios, e que bem que sabe vir ter contigo no mês em que tudo se enche de sorrisos e tragos e passos de dança leves. Continuar a ler