Setembro de 2006. Eis a viragem na minha vida, a partida para o tal Erasmus, tudo tudo tudo novo, aprendi a comunicar numa língua nova e senti a evolução diária. Foi tudo tão rápido. Conheci gente de todo o mundo, fiz amigos de diferentes países, chorei com a partida, alimentei clichés que afinal eram mesmo verdadeiros.
Voltei frustrada para a minha Lisboa, trabalhei de graça, questionei o jornalismo outrora tão sonhado, e regressei à Alemanha quase que por acaso, involuntariamente. Fruto de uma candidatura quase de olhos fechados, porque sabia lá eu o que queria. Nova cidade, Bonn e Leipzig parecem não pertencer ao mesmo país. Deixei de estudar, passei a trabalhar por dois meses.
Apaixonei-me pela rádio, aprendi muito e por isso quis ficar. Candidatei-me para tudo o que era sítio com a minha nova amiga Bettina, desde rádios comerciais em Berlim a apoio em serviços de catering ali na Renânia do Norte. Até que consegui a opotunidade de traduzir o website de uma agência de viagens “à nêv” de alemão para português. Aprendi umas coisas de marketing, conheci o verdadeiro ambiente de trabalho alemão, rígido – para não esquecer o “a Débora não vem hoje?” por ver o meu lugar vazio às 09:03. Foram seis meses difíceis, a Primavera e o Verão inteirinhos numa rotina desgastante e triste, a bicicleta para a estação, o comboio para Colónia, o eléctrico até essa grande empresa em expansão que em nada me preenchia. Mas tinha colegas de várias nacionalidades, muito queridos, também eles ficaram amigos. Muitas vezes saía à sexta-feira e corria para a rádio, onde trabalhava com gosto, madrugadas muitas, quem corre por gosto não cansa.
Mas eu cansei-me. Desisti – e fiz bem. Dediquei-me à rádio por mais uns meses, e estava feliz com isso. Decidi ficar… até que um e-mail me dá conta de uma vaga em Bruxelas, na máquina da Europa, por cinco meses. A candidatura também tinha sido enviada meio por acaso, nas curtíssimas férias de Verão em casa. Partiria dali a 2 meses. Recomeçou a correria. Cancelei tudo, despedi-me da Alemanha, deixei a custo a quarta casa que tive em Bonn num único ano.
Apanhei o TGV apertado para uma nova cidade, um novo país, duas novas línguas e aquilo a que acabei por chamar um segundo Erasmus. Se no primeiro dia não conhecia ninguém, ao fim de uma semana já tinha a memória do telemóvel cheia de novos contactos, nomes estranhos vindos da Croácia, da Dinamarca, da própria Bélgica. Novos amigos, duas casas, novas vivências, lista infindável de aprendizagens, muitos sorrisos e fotografias que os recordam. Tenho tantas saudades como as que tenho de Leipzig.
Mas tal como Leipzig, também Bruxelas terminou. No dia em que fiz 24 anos regressei a Casa, onde fiquei merecidamente dois meses. Decidi regressar a Bonn. A mesma cidade, nova casa. A mesma língua, novo ambiente. Deixou de haver novidade. Mas ficou a calma maturidade conquistada, sem querer, nas onze casas onde vivi nestes últimos três anos que tanto trouxeram à minha vida.
Para 2010? Só agradeço. E que todos tivessem as alegrias que, entre momentos de angústia, solidão e muito medo, aquele Norte me tem dado. Resta saber por quanto tempo.
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